domingo, 3 de julho de 2011

Educação integral põe Apucarana no mapa (Globo.com)

Educação integral põe Apucarana no mapa (Globo.com)

Adauri Antunes Barbosa (adauri@sp.oglobo.com.br), enviado especial
Edilaine Souza auxilia a aluna Eduarda Magnólia na aula de balé da Escola Karel Kober / Foto: Marcos Alves
APUCARANA (PR). A cidade brasileira que implantou há dez anos o Sistema de Educação Integral na rede pública colhe agora os frutos do trabalho: o impressionante índice de 0,1% de evasão escolar em 2009, e notas cada vez melhores nas avaliações de desempenho organizadas pelo MEC. A experiência de Apucarana, município de 120 mil habitantes, no norte do Paraná, tornou-se o principal modelo recomendado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE).
As crianças ficam na escola das 7h30m às 16h30m. Depois das aulas, seguem para o reforço escolar, onde o professor percebe falhas e trabalha individualmente as dificuldades.
Os cerca de 9 mil alunos da rede municipal — 7 mil nas escolas de primeira à quarta série; 1,5 mil nas creches; 300 do ensino de jovens e adultos; e 300 da Educação Especial — são atendidos por 655 professores. O salário médio dos professores, segundo a prefeitura, foi R$ 1.637,56 em maio passado. O menor salário, para iniciantes com 20 horas semanais, é de R$ 776,32; o maior, de diretoras e coordenadoras, de R$ 4 mil.
Obrigada por lei a investir 25% do orçamento em Educação, Apucarana faz mais: destina 32% do seu orçamento para as 39 escolas municipais, que atendem alunos do primeiro ao quarto ano do ensino fundamental. No Paraná, o ensino do quinto ao nono ano é responsabilidade do governo estadual.
Os resultados aparecem nos índices nacionais, como a Prova Brasil. Em Matemática, a média de Apucarana cresceu: 198,4 (2005), 217,7 (2007) e 237,5 (2009). Em Português também houve evolução: 189,8 (2005), 195,7 (2007) e 206,6 (2009). No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), a nota do município em 2009 foi 6,0, enquanto a do Estado do Paraná foi 5,4, a dos três estados do Sul, 5,1, e a do Brasil, 4,6.
Escolas oferecem aulas de balé, caratê e artesanato
O secretário de Desenvolvimento Humano, Cláudio Silva, diz que, no último Ideb, 60% das escolas da rede municipal tinham nota entre 6,0 e 7,0, 28% entre 5 e 5,9 e 12% entre 4,4 e 4,9. A média nacional foi de 4,6 e a do Paraná, 5,2.
Na escola Luiz Carlos Prestes, no bairro das Chacrinhas, a professora de Educação Especial Geralda Maria Matias da Silva se emociona quando fala de sua única aluna, uma menina de 9 anos que tem paralisia cerebral e movimentos restritos:
— A gente percebe pelos olhinhos dela que ela está entendendo tudo. Não consegue falar, mas ouve tudo com tanta atenção que a gente fica contente, emocionada até, quando percebe que ela está aprendendo.
As escolas da rede municipal têm autonomia para oferecer no período integral aulas e oficinas que agradem aos alunos. As mais requisitadas são balé, caratê, trabalhos manuais e artesanato. Na Escola Vida Nova, a professora Rosa de Oliveira Franzotte cuida da horta:
— Os alunos levam para casa não só as verduras, mas também o conhecimento para plantar e colher.
— Para cuidar da qualidade do ensino temos de diversificar oficinas. Fazer com que as crianças gostem da escola. A escola deve ser prazerosa — ensina a diretora Eliane Zanin.
No Parque Bela Vista, um dos bairros com maior vulnerabilidade social, a diretora da Escola Professor Idalice Moreira Prates, Eliane Zanin, reduziu as faltas com o projeto “Quem não falta ganha”: todos os alunos que, no bimestre, não tivessem faltas concorriam a uma bicicleta. O índice de comparecimento foi subindo no ano passado: de 47% para 52%, depois para 74% e 78%. Uma das mais movimentadas festas foi a da chegada dos novos computadores. Os micros antigos foram sorteados entre alunos com faltas justificadas.
— Fizemos outro projeto trabalhando o aspecto da violência. Tinha muita briga e conseguimos diminuir o problema mostrando que o aluno podia ter outra conduta — conta Eliane.
Muitos pais passaram a ser voluntários. Fátima Regina N. C. Rodrigues levou um grupo de crianças ao dentista na Unidade Básica de Saúde, ao lado da Escola Professor Idalice Moreira Prates. A dentista da UBS reclamava que os pais não levavam os filhos para tratar os dentes. A diretora teve a ideia de juntar grupos de cinco a sete crianças e colocar uma mãe voluntária para levá-las ao consultório. Fátima aceitou o trabalho porque acredita que deve retribuir o carinho que a filha Giovana, de 9 anos, recebe na escola:
— Minha filha adora tudo. Faz balé, aula de artesanato. Aprendeu até a fazer um cachecol. É tanto carinho que as crianças nem querem ir embora.
Mãe de Isadora, de 9 anos, Tânia Regina A. C. Alves, outra voluntária da educação integral, conta que a filha é superativa e teve a chance de participar de várias atividades:
— Ela participa de tudo, torneio de bola queimada, aulas de bordado, pintura. Mas se identificou mesmo foi com o balé.
A escola oferece alimentos comprados diretamente de produtores da região, enriquecidos muitas vezes pela horta, e tratados de forma balanceada por nutricionistas. São três refeições por dia: café da manhã, almoço e café da tarde.
Reeleito depois de convencer a cidade de que a educação integral era o caminho certo, o então prefeito Padre Valter Pegorer (PMDB) fez o sucessor. O atual prefeito, João Carlos de Oliveira (PMDB), admite que só foi eleito em 2008 por causa do projeto.
Mas o município conseguiu uma excelência cuja continuidade é incerta. A partir do quinto ano, o ensino cabe ao governo estadual, e o modelo integral é interrompido:
— A gente não pode esquecer que é a partir dessa idade, da pré-adolescência, que começa a fase mais crítica do desenvolvimento. Então, a educação integral não pode ser interrompida, tem que ter continuidade — reivindica Tânia Regina A. C. Alves. 

Fonte: http://extra.globo.com/noticias/educacao/educacao-integral-poe-apucarana-no-mapa-2075331.html


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